terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Resenha crítica


Hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula

MARCUSCHI, L. A. . O Hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Linguagem & Ensino (UCPel), Pelotas - RS, v. 4, n. 1, p. 79-112, 2001.

Luiz Antônio Marcuschi possui doutorado em filosofia da linguagem (1976) e pós-doutorado em questões de oralidade e escrita (1987), ambos realizados na Alemanha. É professor titular em lingüística do Departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco. Foi um dos fundadores da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística (ANPOLL) e seu presidente de 1988 a 1990. Tem várias publicações, muitas delas explorando temas pioneiros na área da lingüística.
Em seu artigo “O Hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula”,  Marcuschi traz algumas indagações e reflexões sobre o uso do hipertexto nas atividades escolares, reve o papel da escola no letramento e a função do computador no ensino.
Nas primeiras palavras Marcuschi indaga sobre a presença do hipertexto no domínio das atividades escolares em conseqüência da presença do computador na escola que é uma realidade incontornável. Preocupa-se em como desenvolver uma política de letramento conectada a uma nova tecnologia.  Afirma que a entrada do computador e a escolha dos programas acarretarão a introdução de determinados modelos de letramento e a exclusão de outros.
 O autor faz uma abordagem crítica do hipertexto como um novo espaço da escrita. Por ouvir pessoas falarem que o computador é uma forma artificial de produção da escrita, surge à indagação, há uma forma natural da mesma? Apesar de críticas, ele não considera estranho o uso de um novo espaço da escrita, pois, isso vem ocorrendo desde sua invenção. Salienta que está faltando uma maior preparação do leitor para a utilização da realidade virtual que está modificando a noção tradicional do texto.
Marcuschi, nessa exposição dedicou-se a análise de quanto o uso desse novo espaço da escrita afeta as formas de produção e compreensão textual. Faz várias indagações com relação à introdução dessa nova ferramenta de trabalho no ensino, entendendo que a mais  complexa é a que se refere aos processos de produção e compreensão e suas relações comas questões cognitivas.
Ao abordar sobre noções do hipertexto, diz  que o mesmo consiste numa rede de múltiplos segmentos textuais conectados sem ligações lineares, aponta como principal diferença,  com textos lineares, a possibilidades de diferentes escolhas para leituras e interferências online. Destaca como  característica importante do hipertexto a produção colaborativa, ou seja, em grupo.
Define o hipertexto como um processo de escritura/ leitura eletrônica multilinearizado, multiseqüencial e indeterminado.
Evidencia duas tipologias na construção de hipertextos: exploratório, que mantém a autoria original, os usuários são navegadores e construtivo que evapora a autoridade do autor original  e possibilita interconexões e controle do usuário.
Marcuschi chama de stress cognitivo quando é exigida uma sobrecarga do leitor de hipertextos, pois uma leitura proveitosa do mesmo exige um maior grau de conhecimentos prévios e maior consciência quanto ao buscado.
Ao refletir a questão, será o hipertexto um novo espaço da escrita, conclui  que o mesmo não traz um novo espaço para a escrita, mas um novo espaço para a textualização. Diz que esta forma de se escrever tem um fascínio muito grande hoje e parece estar mais a serviço da pouca paciência e do pouco tempo que temos para ler textos longos. Não serve para aprofundamento, pois é de tal forma fragmentária que não consegue sequer saciar a curiosidade, quanto mais a necessidade de conhecimento aprofundado.
Ao se referir sobre a natureza do hipertexto, aponta como principais características: O hipertexto é um texto não linear, volátil, topográfico, fragmentário, de acessibilidade ilimitada, multisemiótico e interativo. Diante dessas características o autor questiona-se, quais as condições da textualidade do hipertexto?
Marcuschi , baseia-se em vários autores para  relacionar texto e hipertexto, e constata que as teorias do texto, tal como as conhecemos, auxiliam na compreensão do funcionamento do hipertexto. A inovação trazida pelo hipertexto não está no uso específico da língua enquanto atividade sócio-cognitiva, mas na sua apresentação virtual.
O autor aborda também, a redefinição de autor e leitor diante desta inovação e diz que o leitor usuário de hipertexto determina não só a ordem da leitura, mas o conteúdo a ser lido.
No artigo, Marcuschi cita a inexistência de um foco dominante ao se referir a não linearidade como principal característica do hipertexto. Mas em uma revisão mais crítica do tema destaca como principal diferença entre texto e hipertexo as maneiras como os leitores controlam o acesso a uma dada peça de informação. Diz que a deslinearização é um processo de construção de sentido muito antigo e normal, não constituindo novidade. A novidade é sua transformação em princípio de construção textual.
Após análise feita sobre o hipertexto e oralidade, o autor enfatiza que, se na escrita impressa, o texto impresso controlava o próprio autor tornando-se dele independente, no caso da escrita com o computador, o autor será o controlador de seu discurso. A consciência das barreiras entre a fala e a escrita vai desaparecendo.
Referindo-se a coerência do hipertexto Marcuschi diz que, para mantê-la deve haver algum tipo de integração conceitual e temática que não se dá como virtude textual imanente, mas como proposta do leitor e como ponto de vista organizador. E conclui que, mais do que um gênero textual, o hipertexto é um gênero de programas computacionais que possibilitam desenvolver seqüências textuais.
No final do artigo Marcuschi traz algumas conclusões, afirma que a leitura do hipertexto é caracterizada como uma viagem por trilhas. Ligam-se nós para formarem-se redes. Conclui que o hipertexto supõe, ao contrário do que se imagina, mais conhecimentos partilhados, mais atenção e decisão constante para que se torne uma leitura proveitosa e produtiva e também exige uma concepção mais interativa para a noção de produção de conhecimento
Em seu entendimento, os desafios mais sérios do hipertexto estão na área da produção e do ensino e não da tecnologia, porque esta já está relativamente clara e seus problemas não são de conceituação.
Julga que a reflexão sobre o hipertexto é também um bom momento para se refletir de maneira mais sistemática sobre o contínuo das relações entre oralidade e escrita e o surgimento de uma série de novos gêneros textuais no contexto da tecnologia eletrônica.
O texto de Marcuschi é escrito fundamentado em pesquisas, reflexões e críticas e, deixa claro que o hipertexto como um novo espaço da escrita em sala de aula exige do professor e aluno um conhecimento bem mais amplo do que o uso de textos lineares. Exige conhecimentos de várias ordens e uma capacidade de relacionar e associar fatos, dados etc. Devemos nos conscientizar que para termos uma leitura proveitosa é preciso preparação e conhecimento prévio do que é buscado. Portanto, a leitura desse artigo é recomendada a todos aqueles que se preocupam e se dedicam a educação como um processo em constantes mudanças.